quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

CARTA IV

Juventude quase perdida, no fundo o que eu exijo de ti é revolta!
Isto é, ver o mar por detrás das torres das Amoreiras!
Ou simplesmente : meter partículas de realce na vida agafonhada que transmite o sarampo Belmiro!
Ou ainda melhor: introduzir em cada minuto de sol a gota miraculosa de orvalho que é apanágio das manhãs de inverno e que para o poeta é ao mesmo tempo esperma dos puros e molhadela vaginal da moçona excitada de Santo António dos Cavaleiros!
E no final : curtir a morte como se fosse outra cena qualquer!
Já compreenderam: não sou pelo totalitarismo da juventude mas pelo individualismo da juventude!

E contra a tua catividade!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

CARTA III

Jovem adolescente frustrado que nunca vais às putas: vou-te contar uma história recente antes de desligar. Sei que apreciarás. Há uma semana, mais dia menos dia, numa noite de sábado, regressava eu a pé a minha casa quando encontrei numa rua que desemboca na Praça da Figueira ( uma rua que já esqueci o nome ) uma puta ocasional com uns belos olhos pretos. Logo que me viu chamou-me e os seus olhos brilhavam.
Talvez ela estivesse contente de ter encontrado alguém a seu gosto, contente em juntar o útil ao agradável. Eu estava cansado, muito bebido, e sem vontade de fazer sexo. Mas os olhos dessa puta ocasional que me contou ali rapidamente a sua história comoveram-me. Viera prostituir-se ( dizia ela ) porque precisava de pagar a renda do quarto. E levei-a para minha casa. Uma vez chegados ela despiu-se logo. O seu corpo parecia o de uma criança, magríssimo. O seu corpo realmente não me excitava mas os seus olhos brilhavam como se um dos melhores museus do mundo estivesse em chamas. Foi isso que me fez entesar e gozou duas vezes. A relação humana que tivemos (de grande sinceridade, de grande proximidade, de grande honestidade ) fez-me sentar à mesa da minha cozinha para meditar depois de ela ter partido e de ter feito sexo comigo durante meia hora : afinal como eu não podia foder-lhe os olhos, humildemente optara pela sua pequena vagina lubrificada. Mas fora pelos seus olhos devido a eles pelos seus olhos mais negros que a noite embebedada que eu empreendera essa relação impossível de outra maneira...