quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

CARTA II

Vejo-vos nos concertos rock atracadas a esses finitésimos que só procuram o dinheiro como única velocidade de vida, vejo-vos nas bancadas dos estádios de futebol excitadas pela súbita camaradagem transudante dos vossos futuros esposos que vos largarão à primeira oportunidade em casa com as coxas alargadas, vejo-vos nas noites de Santo António e S. João procurando a chuva de estrelas da diversão anual onde só há queda de grandes meteoritos de frustração!
Sois tão sonhadoras que só sonhais com o mesmo sonho, casar com um homem rico, belo e estulto! Ou então com um primo que se suicidou na sua tenra maioridade!
Sois tão sonhadores que já escolhestes o nome da vossa companheira: chamar-se-á Sandra e terá dez cartões de crédito! Quanto aos pais são farmacêuticos!
Vejo-vos desamadas, indiferentes, desprogramadas, vejo-vos materializados até à rótula do bife, grosseiramente engordados nos pensamentos e nas obras, redondamente enganados mas felizes, e com eles plantados na testa, e mudo de passeio porque há muito tempo já que me divorciei da vida monogâmica, fácil e bacana!
Primeiro parêntesis purulento (Portugal --- porque é que as conas desaparecem sozinhas? --- não é um grande mistério).
Segundo parêntesis purulento (Vós não bebeis, engolis! Vós não falais, monologais! Vós não fodeis, gritais com medo e molhais por obrigação, ejaculais!).

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

CARTA I

Vejo-vos no Bairro Alto, nas Docas, no Lux, na Capital, na Biqueense, nos bares do Cais do Sodré, na esplanada do miradouro da Graça, em Lisboa, vejo-vos no Porto, na Ribeira, nas boates da Foz, vejo-vos nas Docas Secas de Castelo Branco, nas tascas da Covilhã e nas suas duas mais famosas discotecas a Companhia e o Armazém (outrora fábricas de lanifícios ), vejo-vos na Zambujeira do Mar, em Albufeira, em Vilamoura, nos cafés de Lagos, e noutros pontos do país onde corre livremente a imperial a 1 euro e o shot fumante a 1 euro e meio e o meu coração põe-se logo a ganir de tristeza!

Sois tão terrenos, mais terrenos que os terrenos onde foi construída a Expo 98 --- hoje aos moscardos!

Vejo-vos na rua abraçados a lontras de minissaia, as vossas oportunistas de namoradas, vejo-vos no cinema beijando as mesmas interesseiras, nas sanduicherias volantes comendo com os olhos amostardados as vossas futuras esposas quase engravidadas, e rapidamente o meu sexo encolhe como uma bandeira no final de um dia feriado!

Sois tão convencionais, mais alinhados que as divisas de uma nova magala promovida a caba - miliciana!